Kira apertou os passos para
dentro da loja mais próxima. A chuva começara a engrossar e sua mãe não
gostaria de vê-la chegando molhada em casa. Entrou em uma loja de chapéus muito
famosa na região londrina e suspirou aliviada ao ver que nem um pingo tinha
caído em sua roupa.
Naquela manha estava acontecendo
o enterro de Carlos, mas Kira odiava enterros. Da última vez que fora em um,
tinha sido de sua vó paterna, uma perda muito lastimável, e não tinha gostado
muito da experiência.
Louis ainda estava de cama, pelo
menos até o dia seguinte. Ele já estava bem melhor, seu jeito cínico e rude
tinham voltado a todo o vapor e as brigas constantes dos dois já tinham voltado
a sua rotina normal.
– Posso ajuda-la? – um rapaz alto
e jovem perguntou docemente. Kira levou um pequeno susto – Desculpe-me, não
quis assusta-la.
– Não... Tudo bem, só estava me
protegendo da chuva... Se incomoda?
– Não, fique a vontade. – o
garoto disse.
– Obrigada.
Kira admirou por um segundo sua
beleza. Era um jovem alto, de cabelos loiros escuros e seus olhos possuíam um
tom verde, eram lindos. Seu ombro era largo e o casaco que usava caía
perfeitamente pelos seus ombros.
– O que uma jovem tão bela como
você estaria fazendo sozinha na rua? – ele puxou assunto.
– Eu vim dar uma volta... Não gosto
muito de me trancar em casa.
– Entendo – o rapaz disse – Sou
Philip! – Philip lançou um sorriso amigável.
– Me chamo Kira... – a garota
respondeu um pouco acanhada. Por que ele estava falando com ela? Geralmente as
pessoas da região mantinham distancia dela.
– Belo nome – Kira lançou um
sorriso fraco e voltou a encarar a chuva forte pela janela – Você não é muito
de falar, certo Kira?
– Não sou boa pra papo... Além do
mais, as pessoas nunca conversam comigo. – ela disse com indiferença, sem tirar
os olhos da janela.
– Não sei por que, você é uma
dama muito agradável – Kira riu fraco, colocando uma mecha de sua franja para
trás da orelha.
– Você não é daqui, é?
– Não. Como adivinhou? – Philip
riu.
– Porque nunca te vi nessa
loja... – a garota reparou na afinada que a chuva deu – E porque qualquer homem
que queira manter uma imagem... Não viria conversar comigo! – Kira olhou para
aqueles olhos verdes e deu um último sorriso antes de sair porta a fora.
Ela correu pelas pequenas ruas
movimentadas – mesmo com chuva – e foi ao encontro de sua carruagem. Pierre a
aguardava com a mesma cara de sempre e quando a viu chegar, lançou um sorriso
breve.
– Se divertiu, Kirra? – o francês simpático perguntou.
– Muito. – a garota riu e subiu
na carruagem.
Pierre fechou a porta e em poucos
minutos ela já estava sendo levada para casa. Kira adorava passear pelas ruas
Londrinas em dias nublados... Não entendia muito porque, mas adorava. Talvez
seja por causa do vento forte que batia em seus cabelos, ou ás vezes o cheiro de
asfalto – sim, já existia asfalto em 1888 – molhado que entupia suas narinas.
Mas naquele dia tinha sido
diferente... Philip. Ficara realmente chocada por tê-lo conhecido, seus únicos
amigos, até então, era um de seus criados, seu primo, e agora dois amigos de
seu noivo. Ninguém nunca parava na rua para se comunicar com ela, Kira era como
o problema que toda família evitava: uma filha rebelde. Ela até se divertia com
a situação, era um tanto quanto engraçado.
– Kirra, chegamos. – Pierre abriu a porta da carruagem, e ajudou a
garota a descer.
Kira agradeceu e foi para dentro
de casa rapidamente. Fifi veio correndo para recebe-la e Kira a pegou no colo
acariciando a cachorrinha.
– Kira é você? – a voz fina de
seu noivo ecoou pelo corredor.
– E falando em inferno! – ela
revirou os olhos e colocou a animalzinha no chão – Sim, Louis? O que é?
– Nada, só estava vendo se era
você... Infelizmente. – Kira andou pelo corredor até chegar a sala de estar,
onde Louis estava sentado lendo um jornal.
– Você parece melhor... Muito
melhor.
– É... acho que estou melhorando.
– Ninguém chegou ainda?
– Por acaso você está vendo mais
alguém nessa casa além de nós dois?
– É. Você está melhor. – Louis
virou os olhos.
Kira se jogou no sofá ignorando o
garoto. A casa ficava tão calma sem sua mãe para lhe perturbar a paciência.
Estaria mais perfeito ainda se Louis não estivesse presente, aí sim seria o
paraíso.
Os olhos da garota então
repararam em umas papeladas em cima da mesa de centro. Várias folhas brancas
empilhadas uma sobre a outra, junto com algumas caixas do lado.
– O que é isso? – ela perguntou
mais para si mesma.
– Sei lá... – Louis deu de
ombros.
Kira ignorou Tomlinson e foi dar
uma olhada. Ela se ajoelhou diante a mesa e começou a mexer nas folhas. Era
algo sobre Carlos... Na verdade, algo de Carlos. Talvez as coisas que estava no
seu escritório.
Kira abriu a caixa e olhou
curiosa para dentro. Tinham várias folhas, desenhos, para ser mais especifica.
Ela enrugou a testa e tirou-os lá de dentro. Elas continham o mesmo padrão de
desenhos, era um ombro com uma espécie de cicatriz... Ou talvez uma tatuagem.
Ainda curiosa, Kira voltou a
olhar dentro da caixa. Calculadoras, livros de matemática e bem no fundo, um
livrinho pequeno, com a capa de couro em um tom marrom desbotado. A jovem pegou
e conseguiu ler em letras cursivas ´´Diário``. Era o diário de Carlos.
– Louis! – Kira se levantou,
abrindo o diário – Olhe isso... – ela se sentou ao lado do noivo e mostrou para
ele.
– O que é isso? – Louis perguntou
impaciente.
– É o diário do Carlos.
– Carlos escrevia em um diário?
Puffff que gay! – Kira lhe deu um tapa no braço – Ai! Desculpa.
Dentro do pequeno livrinho
continha linhas e mais linhas preenchidas com a letra cursiva de Carlos.
Algumas páginas tinhas uns desenhos estranhos e outras estavam com algumas
fotos coladas.
– Olhe... Essa está solta – Louis
apontou para uma foto que tinha caído do meio das páginas, junto com um
papelzinho dobrado – ´´Mantenha os
amigos perto, e os inimigos mais perto ainda`` – Tomlinson leu.
Kira pegou a foto de suas mãos.
Era um homem bem novo. Deveria ter uns 18 anos. Cabelos cheios de gel, jogados
para trás e usava um terno extremamente arrumado e, pelo o que parecia, caro. A
foto estava desgastada e parecia ter sido amaçada várias vezes.
– Por que Carlos guardaria isso
com ele?
– Ás vezes é um parente! – Louis
palpitou.
– E porque esse parente mandaria
uma foto com isso escrito atrás?
– E quem disse que o parente
mandou?
– Louis, está vendo essas marcas
aqui do lado? – Kira mostrou umas manchas brancas na borda da foto – Isso quer
dizer que ficou em um lugar fechado, apertado, com algum ambiente úmido...
Provavelmente mandaram de longe e o correio deixou molhar em algum momento...
– O que tem no papel?
– Hm... – Kira desenrolou o
papel, esse estava em um estado ainda pior – ´´Caro senhor Klarck, o senhor
sabe o que fazer. Estarei de olho. Ficarei observando. Não fracasse. Sua missão
é tão simples... Um erro e você saberá as consequências. –L ´´ Quem é L?
– Não sei...
– L... L... – Kira tentou pensar em
alguém conhecido (tirando Liam e Louis, claro).
– Certo... – Louis parecia meio
confuso – Então Carlos tinha um parente filosofo? – Kira virou os olhos.
– Louis? Você já leu algum livro
na vida?
– Alguns... Por quê?
– Não está obvio?
– Er não... Desculpe, mas eu não
falo macaques.
– Argh! Carlos deveria estar 100%
envolvido no roubo... Deveria estar sendo pressionado.
– Pelo tal de L?
– Sim! Esse cara deve estar atrás
de tudo e...
– Venha, querido... Vamos! – os
dois levaram um susto, tanto, que até deram um pulo. Era Kerry... E William...
E Harry e Zayn... Tinham voltado do enterro.
– Esconde isso!!! – Louis
sussurrou e Kira pegou os desenhos rapidamente junto com o diário.
– Onde eu ponho??? – a garota
ficou procurando um lugar.
– Kiryn? Louis? Estão aí? – a voz
de Kerry se aproximava.
– Ai, bulhufas!
– Bulhufas? – Louis começou a
rir. Kira fez cara feia e tacou as coisas em cima dele – Ei!
Louis olhou para os lados e pegou
uma almofada, colocando-a sobre o seu colo e tampando os utensílios de Carlos.
– Aí estão vocês!! – Kerry
apareceu – Até que enfim. O enterro foi horrível! Tudo mal organizado e...
Vocês estão estranhos, está tudo bem?
– Sim... – Louis e Kira
responderam juntos.
– Ok então... – Kerry os olhou
estranho – Vou pedir para que Maura arrume o almoço... Não incomodem William
viu? Ah! E Kira, minha filha, teremos visitas para o jantar hoje, esteja
apresentável.
– Certo.
– Hãn... Louis? Está passando
bem? Está abraçando uma almofada!
– Sim... Eu só estou com frio...
Eu estou bem.
– Certo... Harry e Zayn estão lá
fora conversando... Eu vou falar com a Maura! – e enfim, Kerry saiu.
– Ufa... Sua mãe é insistente.
– Nem me fale... Me dê isso, vou
levar lá para cima e guardar em um lugar mais seguro. Ninguém pode saber que
estamos com isso.
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